Que a obra “Alice no país das maravilhas” é um clássico da literatura ninguém tem a menor dúvida, mas, você sabia que a obra é repleta de problemas matemáticos? Pois é, muitas vezes essa informação passa despercebida porque na maioria dos trocadilhos matemáticos, só é possível uma compreensão por meio da língua inglesa, e/ou, com entendimento em um determinado contexto, o da época em que o livro foi criando, 1865.
Antes de trazer a relação de Alice com a matemática, é preciso entender quem foi Lewis Carroll, criador do clássico que faz grande sucesso até hoje.
Pois bem, Charles Lutwidge Dodgson vulgo Lewis Carroll – pseudônimo usado para assinar suas obras literárias, nasceu na Inglaterra, foi entre outras coisas matemático, lógico e romancista. Por meio disso, fica mais fácil de compreender essa relação, não é mesmo?
Apesar de suas primeiras obras abordarem temáticas puramente matemáticas e lógicas, Carroll produziu depois do sucesso com Alice, outras obras envolvendo a poesia nonsense (para quem não conhece o termo significa, na nossa tradução, sem sentido ou absurdo).
E para retomar com o foco na relação do livro com a matemática, vejamos um entre os diversos exemplos que o livro desfruta entre a junção pouco comum: Literatura e matemática. Essa passagem se encontra no capítulo “Ainda durante o lanche”.
Vejamos:
A Lebre de Março pegou no relógio e olhou-o com um ar tristonho. Depois, mergulhou-o na chávena cheia de chá e voltou a olhar para ele. Mas não sabia dizer mais nada senão repetir:
– Era manteiga da melhor qualidade.
Alice estivera a observar o relógio por cima do seu ombro, com alguma curiosidade.
– Que relógio tão engraçado! Indica o dia do mês mas não indica as horas! Comentou.
– Porque haveria de o fazer? Disse o Chapeleiro entre dentes.
– O teu relógio indica o ano em que estamos? Perguntou o Chapeleiro.
– Claro que não. Respondeu Alice muito depressa.
– Mas isso é porque um ano inteiro dura muito tempo. Justificou Alice.
– O que é exactamente o caso do meu! Disse o Chapeleiro.
Carroll baseou esta passagem de Alice no País das Maravilhas, na sua charada dos Relógios Loucos de Carroll como mostra o site: http://webpages.fc.ul.pt/~ommartins/seminario/alice/matematica.htm. Acessado em 12/04/2019.
Considere que o relógio do Chapeleiro funciona e os ponteiros possuem todos o mesmo tamanho. Coloque-o agora em frente a um espelho e descubra a que horas, entre as 6 e as 7, o relógio e a sua imagem espelhada dão exactamente a mesma hora.
Solução: Quando o relógio marcar, aproximadamente: 6 horas, 28 minutos.
Ás 6 horas, o ponteiro dos minutos e o das horas formam exactamente um ângulo de 180º. Se movermos o ponteiro das horas x graus, então, no tempo reflectido no espelho, o ponteiro dos minutos move-se (180-x)graus.
O ponteiro das horas move-se 30º por hora e o dos minutos move-se 360º por hora. Então o tempo do relógio é exactamente igual ao reflectido no espelho, quando os dois ponteiros se moverem de modo idêntico, i.é., quando (180-x) /360= x/30, ou seja, quando x=180/13.
Assim sendo, este ângulo representa 180/13 x 1/360 x 60 minutos no mostrador do relógio. Reduzindo dá cerca de 2 4/13 minutos (aproximadamente 2 minutos e 26 segundos). As horas marcadas em simultâneo no relógio e no espelho são: 6 horas, 30-(2 4/13)minutos, i.é, 6 horas, 27 9/13 minutos, que é equivalente a termos exactamente: 6 horas, 27 minutos e 42 segundos.
Assim como o exemplo acima, uma série de outros probleminhas matemáticos podem ser encontrados na obra. E se mesmo depois desse exemplo você não ficar convicto da relação entre um e outo, convido-os a ler ou reler a obra, dessa vez, com o olhar matemático mais atento.